Não é raro ver hoje o crescente discurso do amor próprio: “você precisa se amar, se valorizar”, que geralmente (não sempre!) se revela apelativo apenas para casos específicos, como relacionamentos ou saúde mental. Não pretendo, aqui, definir ou defender determinado ponto de vista, nem mesmo tocar em assuntos polêmicos e delicados, mas propor uma reflexão bíblica a respeito desse tipo de amor.
Você conhece algum versículo que fale que devemos amar a nós mesmos?
Em Efésios 5:29–30, num capítulo que trata sobre o amor e, especificamente nesses versículos, a respeito da vida conjugal, está escrito:
“[…] Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à Igreja”.
Por meio dele, percebemos que o amor ao outro revela o amor próprio, visto que o homem que ama a sua mulher “ama-se a si mesmo”.
1 Pedro 4:8, João 13:35, Gálatas 5:14, 1 João 4:7 e até mesmo nas leis do Antigo Testamento, como em Levítico 19:18, há a ordenança do amor ao próximo. Chegando ao que eu, particularmente, considero como o mandamento mais conhecido da Bíblia, temos:
“Ame o seu próximo como a ti mesmo” (Mateus 12:31).
O que podemos perceber desses textos? Que todos eles pressupõem o amor próprio. Respondendo ao questionamento feito inicialmente, não há registro bíblico que ordene o auto-amor, se é que posso chamar assim, simplesmente porque ele não precisa ser ensinado.
O principal mandamento de Jesus, que supera todos os outros e está em pé de igualdade com o “Amar a Deus sobre todas as coisas” é o de “amar o próximo”. No Calvário, o Cordeiro de Deus precisou enfrentar Seu desejo de livramento, ao clamar para que fosse livre da morte (“Se possível, afasta de mim esse cálice”), baseado no desejo de fazer bem ao seu próprio corpo, ou melhor, livrá-lo do mal futuro. No entanto, apesar desse “alerta” de amor próprio, entregou-se espontaneamente à morte, de modo que provou seu amor pelo próximo como a si mesmo, pois, ao morrer, não pensava no próprio bem, mas no bem que geraria aos que amava.
Assim como o sofrimento do Mestre, “nosso sofrimento momentâneo não pode se comparar a glória que há de ser revelada”: cruz > salvação. Cristo, fazendo menção à série “Pregar é mais fácil que viver”, deste blog, não só pregou como viveu o que pregava. Ele é a Palavra viva e encarnada.
Diante de Deus, então, o que seria mais importante?
Há vários alertas para a Igreja a respeito sinais que viriam nos últimos dias. Um deles está expresso no livro de Timóteo: “haverá homens amantes de si mesmos” (2 Timóteo 3:2). Percebe como a existência de tais revela o extremo oposto do que as Escrituras sugerem? Sobre eles, a Bíblia é clara: AFASTA-TE. Eles resistem à verdade, são corruptos de entendimento e réprobos (palavra nova pra você aprender hoje. Significa reprovados, banidos da sociedade) (2 Timóteo 3:8).
É importante, com equilíbrio e em certa medida, se cuidar e se valorizar, sim, afinal você se ama, logo, faz consigo o que deveria fazer com o seu próximo. Contudo, há um risco real nessa “pregação” desenfreada sobre o amor próprio: suplantar o que é ensinado por Cristo, perverter o coração e tornar-se o que não Lhe agrada ― os amantes de si mesmos.
Devemos tomar muito cuidado para que essa onda do “auto-amor” não se transforme em uma outra moeda do narcisismo, que é naturalmente reprovável (lembre-se das pessoas que você considera narcisistas: não é um elogio, né?)
Amar a si mesmo não é pecado, mas amar mais a si mesmo do que ao próximo é.
(Isadora Bersot)
Muito bom! Lembro que o primeiro que me abriu os olhos pra isso foi o Antônio Carlos Costa! Amei a exposição que ele fez e traz essa mesma idéia q vc trouxe! MT Bom! O Italo Marsili tb fala disso, especialmente no sentido de doar-se pelo outro!
Depois de escrever, também lembrei de uma fala do Antônio sobre isso! Nossa vida é uma colcha de retalhos mesmo hehehe